O cantor e compositor Diego de Moraes se desdobra em Diego Mascate, um andarilho que percorre caminhos diversos, criando pontes entre o rural e o urbano. O personagem ganha forma novamente na segunda parte de sua trilogia de discos solo, com o lançamento de “Na Estrada, Antes da Curva”, já disponível nas plataformas de streaming via selos Milo Recs e Monstro Discos.
Ouça “Na Estrada, Antes da Curva”: http://smarturl.it/
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O trabalho vem para somar a uma trajetória que inclui ainda passagens por bandas como Pó de Ser e Diego de Moraes e O Sindicato e o duo de rock-sertanejo Waldi & Redson, ao lado de Chelo, da banda Porcas Borboletas. Caminhando e cantando, Diego Mascate personifica duas facetas de um mesmo artista. O álbum explicita isso na sua divisão de lados, com metade das 10 canções ao lado d’A Banda de Apoio, que acompanha o artista nos palcos; e a outra metade sendo guiada apenas pelo vocal e violão, em clima mais intimista.
Essa abordagem fica clara em canções como o primeiro single, “Fraldas Descartáveis”, que trazia uma letra ácida e o peso da banda, contrastando com “Já Pensei”, que abre a parte folk do álbum. Tocada pelo artista ao vivo desde 2008, a composição é uma gravação acústica cheia de efeitos para retratar a história de um personagem revisitando suas feridas do passado em tom tragicômico e bem-humorado. Em uma mescla de canções inéditas e outras já conhecidas do público, Diego Mascate costura um panorama dual, com estilos que se complementam.
“A divisão do disco novo em duas facetas – uma roqueira e outra acústica – representa dois lados da minha caminhada como compositor e performer. Por coincidência o disco ‘Bringing It All Back Home’ de Bob Dylan também é dividido em duas partes, uma eletrificada e outra acústica”, reflete o artista.
Diego Mascate é produto de uma cena efervescente de Goiânia, de onde sairiam nomes como nomes como Boogarins e Carne Doce. Nascido em Cuiabá (MT), ele gravou os álbuns “Reticências…” (2007) e “Parte de Nós” (2010) com o projeto Diego de Moraes e O Sindicato. Além da música, ele divide seu tempo com a atividade acadêmica. Atualmente, conclui o doutorado em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com uma pesquisa sobre Tom Zé e a cena cultural dos anos 1960.
Em 2014, lançou o disco “A.C.”. A sigla vinha de “Antes do Coágulo”, para refletir o momento trágico da vida do artista quando, após um acidente na Rua Augusta (em São Paulo), ficou desaparecido por dias, sendo encontrado desacordado, em episódio que ganhou repercussão nacional. O álbum, gravado antes do acidente, foi lançado como uma celebração à vida. Hoje, totalmente recuperado, Diego vive esta nova e importante fase de sua carreira, marcada pelo lançamento de “Na Estrada, Antes da Curva”.
Ele assumiu essa alcunha de Mascate para refletir uma alma nômade, presente tanto nas temáticas das canções quanto em suas referências, que passam por Tom Zé, Arnaldo Baptista, Jards Macalé, Walter Franco e Zé Rodrix. Neste trabalho, em especial, ele passeia por influências de punk e samba, Frank Zappa e Racionais MC’s, folk e baião.
“Antes eu assinava ‘Diego de Moraes’, mas depois apareceu um cantor chamado Diego Moraes no Programa Ídolos. Para não ser mais confundido com ele, peguei um antigo apelido meu (“Mascate”) e ressignifiquei como arquétipo para minha trajetória como um ‘espírito nômade’, um andarilho da cultura, que atravessa ritmos, temas e interpretações diversas, como esse disco que faz um painel de momentos da minha trajetória”, relembra.
Em “Na Estrada, Antes da Curva”, Diego Mascate assina a direção artística, além de guitarra-base, voz e violão. Ele é acompanhado em algumas faixas por Leonardo Vassoura (bateria), que também assina a produção do disco; Fernando Cipó (guitarra) e Rodolpho Gomes (baixo). Renato Coppoli é o responsável pela masterização, e a produção executiva ficou a cargo de Camilo Rodovalho, da Milo Recs.
Diego Mascate está em turnê atualmente com A Banda de Apoio, divulgando o repertório de “Na Estrada, Antes da Curva”. O álbum está disponível para audição nas principais plataformas de streaming de música.
Ficha técnica
Diego Mascate: direção artística, voz, violão e guitarra-base
Leonardo Vassoura: produção musical e bateria
Fernando Cipó: guitarra
Rodolpho Gomes: baixo
Renato Coppoli: masterização
Camilo Rodovalho: produção executiva
Faixa-a-faixa, por Diego Mascate:
LADO 1
1 – ESCROTO VISIONÁRIO: É uma composição coletiva que escrevi junto com os integrantes da Banda de Apoio. É um som groovado que mescla diversas referências sonoras nossas: Itamar Assumpção (e a vanguarda paulista em geral), Frank Zappa e até o rap dos Racionais. Pode ser interpretada de várias formas – talvez como uma alegoria desse Brasil contemporâneo, a partir desse personagem que encarna um monstro bisonho aproveitador de tendências sociais (por isso visionário), mas que, em sua escrotidão, apesar de ter privilégios temporários, vai se destruindo no longo prazo.
2 – ILUDIDO: Essa música é um ska que compus com meus parceiros Gil Vieira e João Paulo Côrtes. Ressignificamos a ilusão da letra inserindo de uma forma satírica o hino da independência como uma vinheta incidental no início da faixa. Fala da pessoa que “cai na real”, na solidão, e percebe que foi iludida por seus próprios pensamentos. No final tem uma referência sonora à The White Stripes, que foi uma das referências no início da minha carreira (quando comecei eu tocava violão, acompanhado da minha irmã na bateria).
3 – FRALDAS DESCARTÁVEIS: É um rock meio garageiro, meio grunge, que resgatei do repertório de minha antiga banda (Diego de Moraes e O Sindicato), com uma letra crítica à efemeridade de nossa “modernidade líquida” (como diria o Bauman).
4 – PUNK RICO: Embora eu transite por vários ritmos e estilos, acho que tudo que fiz na música tem uma inspiração na filosofia punk (do “do it yourself” – “faça você mesmo”). Então essa é um punk rock que fala de contradições no cenário “roqueiro” não só de Goiânia, mas também menciono situações variadas que vi em outras cidades do país. Musicalmente tem referências a nomes que gosto muito, de The Clash a Bob Dylan.
5 – CONFUSÃO: Essa é um folk-rock que foi uma das primeiras músicas que escrevi (por volta dos 15 anos, há quase 20 anos atrás). Resolvi retirá-la do baú pois tem uma mensagem crítica que conservou alguma atualidade em sua defesa da liberdade individual e do Estado Laico. Musicalmente tem elementos das referências que me marcaram quando eu era mais jovem, como Raul Seixas e Bob Dylan. Essa é a última faixa da parte do disco com banda e é nessa música que pego o violão (nas três anteriores toquei guitarra). Essa música faz a transição para a parte folk do disco.
LADO 2
6 – JÁ PENSEI: Aqui começa a parte folk (voz e violão do disco). “Já Pensei” é uma música que eu tocava na banda Filhos de Maria e Madalena, por volta de 2008. É uma letra tragicômica, meio circense, de um eu-lírico relembrando uma crise filosófica-existencial-
7 – UM NÃO VIVE SEM O OUTRO: É um baião meio torto com uma influência de um compositor daqui de Goiás que admiro: Juraildes da Cruz. Essa letra tem uma perspectiva filosófica dialética, que, de uma forma cômica, busca abordar vários exemplos contraditórios que se completam.
8 – MENTIRA: É uma marchinha torta e satírica que toca em uma série de temas sérios de uma forma irônica, a partir de um eu-lírico aflito que busca uma mentira convincente que lhe dê um sentido na vida, mas no fim termina por expressar o desejo de afirmar a verdade independente do pensamento crítico. Essa escrevi em 2004, na época de graduação (sou formado em História), mas decidi também retirá-la do meu baú, pois parece que ela faz ainda mais sentido hoje (nessa época de “fake News” e “pós-verdade”).
9 – SAMBINHA REDENTOR: Essa penúltima música do disco é um sambinha que escrevi quando morei no Rio de Janeiro, em 2016. De uma forma simples e despojada, canto aqui sobre a redenção pela canção, quando um sofrimento amoroso pode ser transcendido em arte ou música. Morei na cidade para fazer as matérias obrigatórias do doutorado em História Social (que faço pela UFRJ – e estou na reta final). “Sambinha Redentor” já anuncia uma perspectiva sobre a canção que pretendo desenvolver no meu próximo disco, por essa ela entra no fim desse trabalho atual (que considero um trabalho de transição, como o meio de uma trilogia).
10 – VIDA E MORTE DE DIEGO DE MORAES: Termino esse disco com essa música que talvez seja a mais pessoal desse trabalho, fazendo uma espécie de auto-análise musical. Conto de uma forma resumida a minha própria história enquanto cancionista. Narro um pouco de minha trajetória – desde o início em Senador Canedo (região metropolitana de Goiânia, onde moro), passando por diversos projetos musicais (Diego e O Sindicato, Waldi e Redson, Pó de Ser, Filhos de Maria e Madalena) até chegar no meu pseudônimo artístico Diego Mascate.
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Fonte: Nathália Pandeló Corrêa