Uma sonoridade que caminha entre a música brasileira setentista e o pós-punk, o industrial e o rock alternativo, a psicodelia e o experimental faz uma ponte entre o passado e o moderno no primeiro disco de estúdio do trio sergipano Cidade Dormitório. Após uma série de singles e um EP, os músicos apresentam sua franca evolução em “Fraternidade-Terror”, já disponível nas principais plataformas de streaming.
Ouça “Fraternidade-Terror”: http://smarturl.it/FraternidadeTerror
Ao unir conceitos aparentemente tão contraditórios, a banda explora paradoxos para criar canções que refletem os tempos atuais sem parecer descoladas do passado. “Fraternidade-Terror” caminha uma linha tênue entre canções embaladas por nostalgia e romance, enquanto outras soam cinzentas e embebidas nos mais profundos dramas humanos. As referências filosóficas são sutis, o desalento não.
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O contraste é, também, estético e discursivo. O próprio conceito da cidade dormitório – distante geograficamente e culturalmente dos grandes centros – escancara essas noções e provoca o pensamento para além das limitações. “Homo Erectus Plus”, quarta faixa do trabalho que conta com a participação de lllucas, traz no título o humano moderno e suas telas que cabem na palma da mão – apenas para sucumbir ao peso dos muitos gigas de retrocesso em suas costas. Já em “Cinto que aperta e esta fivela me machuca”, surge a constatação inevitável de que a história do sujeito e do mundo à sua volta se perde em uma linha do tempo infinita de auto-descarte.
A capa ilustrada por Emanuelle Alencar, artista plástica de Teresina (PI), incorpora toda essa complexidade. Cidade Dormitório encontrou em seu trabalho um diálogo importante entre as multi impressões do urbano, a vigilância moderna em tons frios que desafiam a arquitetura pós-moderna, e as provocações presentes em “Fraternidade-Terror”. Essas sonoridades e temáticas haviam sido antecipadas por dois singles lançados em 2019: “Relacionamentos são extremamente complicados e meu cachorro sabe disso”, faixa que ganhou uma ilustração de capa da designer Aliens Of Camila; e “Homo Erectus Plus”, lançado em formato footage com lyric video.
Assista ao lyric “Homo Erectus Plus”: https://youtu.be/XNq08LxDL9o
Criada em 2015, a Cidade Dormitório é formada por Yves Deluc (guitarra e voz), Lauro Francis (baixo) e Fabio Aricawa (bateria e voz). Eles começaram a tocar juntos em jam sessions experimentais e despretensiosas que logo foram encontrando uma linguagem musical e lírica comum, pautada por um humor peculiar e irônico que viraria uma das marcas do grupo.
No ano seguinte, a Cidade Dormitório começou a se destacar nos palcos, sendo a banda escolhida para abrir o III Festival ZONS e o Festival DoSol em Aracaju. Em 2016 ainda, foram indicados pela TV Cidade como uma das revelações de Sergipe. Toda essa experiência e burburinho em torno do projeto se transformou em seu primeiro lançamento.
“Esperando o Pior” (2017) é um EP que foi gravado e mixado por Leo Airplane e lançado pela Banana Records e que levou o som da banda para outras fronteiras longe do nordeste. “Setas Azuis” tocou em rádios na Argentina e a faixa “Agora o meu coração é um lixeiro azul escroto” chegou a quase 1,5 milhão de plays. Coroando essa jornada, a Cidade Dormitório realizou uma turnê pelo sul e sudeste do Brasil, com direito a uma passagem por um dos espaços mais assistidos da internet: o Showlivre.
Assista a Cidade Dormitório ao vivo no Showlivre: https://youtu.be/S8cnOKl3uJA
Após dividirem palcos com nomes como Chico César, The Baggios, Maglore, Vivendo Do Ócio, Vitor Brauer, Scalene e Boogarins, eles fazem de “Fraternidade-Terror” um reflexo do Brasil atual e criam uma relação direta da banda com as suas raízes e com a cidade que faz parte do nome do grupo.
Após o lançamento, a Cidade Dormitório quer pegar a estrada, continuar surpreendendo e levar a música sergipana para diversos lugares do país. O álbum está disponível em todas as plataformas de streaming de música.
Fonte: Nathália Pandeló Corrêa