Responsável por importantes produções, cineasta Dannon Lacerda fala sobre seus dois novos longas em fase de produção

Com uma vasta experiência no mundo do audiovisual, o cineasta, roteirista e produtor Dannon Lacerda, natural de Guia Lopes da Laguna (MS), tem dois projetos engatinhados já em fase de desenvolvimento e que prometem mexer com o público: ‘Cabaré das Donzelas Inocentes’ e ‘Em Nome da Pátria’.

Na produção ‘Em nome da Pátria’ Dannon contará a história da Guerra da Tríplice Aliança, mas conhecida como Guerra do Paraguai (1864 – 1870), a história que se passa na época da guerra será contada a partir de um ponto de vista feminino e pessoal, explorando os impactos dos eventos nas cidades de Mato Grosso do Sul que foram ocupadas pelos paraguaios durante o conflito. Além de começar a dar os primeiros passos para tirar do papel uma vontade que já nutria desde a época de adolescente, Dannon conta que a história ficou ainda mais especial ao saber que seus tataravós fazem parte da história que ele sempre desejou contar.

 

– Em maio do ano passado decidi voltar para Mato Grosso do Sul para fazer companhia para minha mãe, uma vez que estava trabalhando em home office. Nesse período, decidi investigar as minhas origens e comecei a fazer pesquisas em cartórios para construir a minha árvore genealógica. Depois de muitas pistas falsas, finalmente encontrei a certidão de nascimento da minha bisavó Etelvina e liguei os pontos, descobrindo que ela era neta de José Francisco Lopes e Senhorinha Barbosa Lopes, ambos de grande importância para a história brasileira. José Francisco, meu tataravô, foi descrito como Guia Lopes no clássico ‘A Retirada da Laguna’, de Visconde de Taunay. E sua mulher, minha tataravó Senhorinha, foi presa duas vezes pelos paraguaios. Então foi uma emoção muito grande saber dessa ligação ancestral, dessa conexão com um episódio da história que sempre desejei abordar no cinema – fala o roteirista.

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O longa, que já tem em seu elenco confirmados a atriz Andreia Horta e o ator Daniel Oliveira, nos papeis principais, também promete contar com a presença de atores e profissionais locais. Para Dannon trabalhar com esses talentos gera um estimulo não só nas pessoas, mas na história em que está sendo contada.

 

– Sempre disse que os filmes que realizasse no meu Estado teriam pelo menos 50% de profissionais locais, porque acho importante esse estímulo e essa troca. Acho estranho quando produções audiovisuais com histórias passadas em nossa região não utilizem talentos locais, não apenas por uma questão de responsabilidade social, mas principalmente porque eles estão prontos em virtude de suas vivências.  É preciso investigar esse Brasil profundo, não apenas nas temáticas, mas na escolha dos talentos regionais – friza Dannon.

 

Dannon diz que está tirando um sonho do papel, mas conta que os desafios para se rodar um longa dessa temática são grandes, principalmente quando o assunto é orçamento.

 

– Se você for realizar um filme histórico retratando as batalhas e conflitos, o maior desafio é sem dúvida o orçamento e a produção de arte. Por isso, na época que me formei desisti da ideia de fazer um filme sobre a Guerra da Tríplice Aliança e foquei em histórias mais intimistas. Claro que é possível fazer um filme intimista e histórico, mas não é o que pretendo neste projeto. Penso que essa Guerra merece uma obra mais ampla em todos os sentidos – explica. 

 

Já em ‘Cabaré das Donzelas Inocentes’ ele diz que sentiu a necessidade de produzir um longa com essa temática, após fazer a leitura do livro ‘Conversando com Cafetinas’, livro de Sérgio Maggio ganhador do Prêmio Jabuti de livro-reportagem que conta a história de cafetinas famosas no interior do Brasil. A obra serviu de inspiração para a criação do roteiro do filme, também assinado por Maggio, que ganhou dez tratamentos e encontra-se na fase de desenvolvimento e busca por recursos para a sua realização.

 

– Eu li o livro em 2011 e fiquei impressionado com os relatos das cafetinas, a força dessas mulheres que foram comandantes do prazer e da dor. Eu nasci no interior de Mato Grosso do Sul onde, como na grande maioria das cidades do interior daquela época, os homens tinham sua iniciação sexual nas zonas de meretrício. Embora eu tenha ido com meu primo nesses lugares, não tive a minha iniciação sexual com as prostitutas, eu simplesmente observava aquele mundo com curiosidade. Lembro que na adolescência minha avó Fausta contratou uma ex prostituta como empregada doméstica, um escândalo para a sociedade, e com ela aprendi muito sobre sexualidade na teoria. A minha curiosidade era de um artista que ansiava por conhecimentos marginais, apesar da educação extremamente católica – conta Dannon.

 

O roteirista promete retratar mulheres reais, de carne e osso, diferente do que vê em filmes que são retratados dentro dessa temática.

 

– Na maioria dos livros e filmes que li e assisti, quase sempre as cafetinas são retratadas com um certo “glamour”, com excesso de romantismo, sendo que a minha experiência destoava desses arquétipos. No livro ‘Conversas com Cafetinas’ finalmente tive a oportunidade de ouvir relatos mais próximos da realidade que conheci, demonstrando que essa profissão, além de ser marginalizada, é vítima de preconceitos e violências diárias, muito diferente das cortesãs francesas, por exemplo, quase sempre retratadas como ricas e poderosas. As cafetinas que conheci e que pretendo retratar no filme são mulheres fortes, mas comuns, algumas abusadas na infância pelos próprios pais, e que encontram nessa forma de vida um escape para seus traumas. Uma vida muito difícil, que tem muitas portas de entrada e poucas de saída – comenta o cineasta.

 

Dannon Lacerda já tem importantes produções assinadas por ele, como exemplo Omoidê (2009), Diálogo (2010), Cine Centímetro (2013) entre outros. Para ele todos esses projetos foram os responsáveis fundamentais para ele dirigir o seu primeiro longa, ‘Copa 181’.

 

– ‘Copa 181’ foi realizado sem patrocínios e em apenas 12 dias de filmagens. Achei que valia a pena investir minhas economias neste projeto audacioso, arrojado, que tem como pano de fundo a questão da prostituição masculina em saunas gays. Apesar de mais pobre financeiramente (risos), enriqueci muito como profissional porque este filme é uma junção de grandes talentos e, apesar dos desafios e das condições, tenho muito orgulho do seu resultado. – finaliza Dannon.

 

Mais informações do cineasta, e seus trabalhos, no https://linktr.ee/dannonlacerda

Fonte: Ingrid Honorato

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