Persona do artista, pesquisador, produtor cultural e musical e engenheiro de som Luan Correia, Mbé transforma suas experimentações sonoras e estudos acerca de sua ancestralidade em “ROCINHA”, seu primeiro álbum que conta com participações especiais de Juçara Marçal e dos renomados percussionistas baianos Luizinho do Jêje e Orlando Costa.
Ouça “ROCINHA”: https://ps.onerpm.com/rocinha
Ouça o álbum completo no YouTube: https://youtu.be/Gw3RCQXm6ZI
Mbé vem do yorubá e significa “ser e existir”. O projeto parte de uma pesquisa por fósseis tecnológicos, utilizados como ferramentas de comunicação com o objetivo de construir um presente-futuro. Produzido na favela que dá nome ao disco, o trabalho é uma decodificação sonora de experiências vividas, lidas e ouvidas ali, à margem da Zona Sul carioca
Assim como nos terreiros, escolas de samba e bailes funk, as batidas e cantos são um dispositivo e um circuito através do qual as populações negras conservam e reinventam práticas e saberes marginalizados pelo sistema cultural vigente.
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Aqui, foram os ruídos que tomaram um papel fundamental para transplantar as informações. Em inúmeras gravações de campo que registram as práticas de povos distantes dos centros urbanos, com os ruídos, é possível ouvir mais do que os músicos e seus instrumentos. O que poderia soar como “sujeira” na gravação, vira ferramenta de transporte para mostrar aldeias e vilarejos, as crianças e animais que passam, o som do rio ou da mata.
Esse universo não é novo para Luan Correia. Atuando como engenheiro de som na Audio Rebel, espaço do underground carioca, ele teve no free jazz, improviso e música de ruídos algumas das suas principais referências. Partindo de artistas como Madlib, DEDO, Juçara Marçal – que aparece no disco em duas faixas – e Moor Mother, ele cria verdadeiras ambiências onde os sons coletados elevam a música para contar histórias. “ROCINHA” é carregado de samples que tentam mostrar a vida contemporânea e um possível reencontro com nativos e antepassados.
“Os samples funcionam como amostras de onde viemos e do que somos, as batidas deixam pegadas nas trilhas e os ruídos ressoam aquilo que não nos contam. Recentemente uma palavra chegou até mim e acredito que ela resuma muito bem onde eu imagino chegar: ‘sankofa’, que por coincidência, é o mesmo nome que carrega o Museu da Rocinha. Sankofa é uma palavra da língua Akan, originária das nações africanas de Gana e da Costa do Marfim, que significa: ‘Devemos olhar para trás e recuperar nosso passado, assim podemos nos mover para frente. Assim compreendemos por que e como viemos a ser quem somos nós hoje’”, reflete Luan.
Mbé vê no experimentalismo uma oportunidade e uma necessidade de ressignificar a vivência preta a partir da arte, e não da marginalização. Mais que um gênero musical, é uma forma de propor um novo olhar para essas experiências e amefricanidade, um novo passo na direção que os antepassados vêm tentando desbravar há muitas gerações de líderes e intelectuais negros.
Inaugurando um novo momento na sua própria trajetória, Luan Correia faz de Mbé uma outra forma de existir e resistir. Sua experiência artística começou ainda na escola de cinema 5 Visões, onde se formou. A partir de sua atuação como engenheiro de som na Audio Rebel, teve contato com artistas como Jards Macalé, Jorge Mautner, Wilson das Neves, Ava Rocha, Iasmin Turbininha, Peter Brötzmann e muitos outros. Como técnico de som, fez trabalhos com nomes do rap nacional e da cena independente do Rio de Janeiro, como Cortesia da Casa, Clau, Calibre 2.1, Ana Frango Elétrico e Thiago Nassif.
Como músico, Luan começou a sua carreira fazendo produções com o coletivo de rap da Baixada Fluminense, Justa Causa, onde atua produzindo beats e na parte técnica de mixagem. Além disso, formou o duo de free noise Ó Só, onde assume bateria e samples ao lado de José Mekler (guitarra/eletrônicos). O projeto participou do curtaminuto “Itapajé”, do diretor Marx Braga.
Foi em meio a esse trabalho que Luan Correia começou a se enveredar pela pesquisa de etnomusicologia e a explorar gravações de campo, com seu potencial de transportar a lugares, contar histórias e criar ambiências. Esse é o ponto de partida para “ROCINHA”, um convite a um novo olhar sobre um local, uma raça, uma história. O álbum chega às principais plataformas de streaming pelo selo QTV.
Fonte: Build Up Media